Querido Papai Noel,
Neste Natal de 2013 quero um presente que eu não sei se
o senhor pode me dar. Mesmo assim eu vou pedir.
É o seguinte,
meu bom velhinho:
Quero a minha inocência de volta. É uma bosta procurar
antecipar possíveis encantos ou desencantos. Isso não é natural e humano.
Eu quero de volta as incertezas. Estou com o saco cheio
das certezas sobre todas as coisas. É muita presunção querer prever
acontecimentos futuros; não esperar que as coisas rolem espontaneamente.
Acho que a experiência esta fora de moda, caduca, e a pretensão
do conhecimento uma chatice.
Quero de novo a ingenuidade do jovem que acredita nos
adultos; que a humanidade ainda tem jeito e aceitar o falso como verdadeiro.
Quero voltar a viver a fantasia do improvável.
Voltar a ter fé nas Orações e na Igreja.
Dimenticare as ofensas justas, e as injustas também.
Voglio essere gente comune che ama da vero, como cantou
o Renato Russo.
Não me importar de ser chamado de babaca por chorar diante
da solidão representada pela tela de uma cadeira pintada por um louco, ou de
outra pintura que mostra duas meninas lendo um livro, ou ainda diante de uma
escultura feita no frio mármore.
Quero sair de casa sem agasalho, mesmo sabendo que
poderá fazer frio no meio do caminho.
Passar embaixo de uma escada, mesmo que algo de ruim
possa acontecer. Sentir um baita susto ao cruzar com um gato preto numa sexta
feira 13.
Quero voltar a cometer os enganos necessários, porque
sem eles a vida é muito monótona e falsa.
Quero sentir melanconia nos dias chuvosos e me
preocupar com os desabrigados, mesmo sabendo que essa é uma incumbência Dele e
não minha.
Aceitar a incompreensão sobre o que eu digo e perceber
que só assim pode-se desenvolver a humildade e pensar melhor sobre a importância
da dúvida.
Preferir o recuo e a covardia para não magoar ninguém
diante do enfrentamento desleal da ignorância.
Quero viver de novo a ansiedade de aguardar que o apelo
dos senhores do humanismo e do iluminismo, de ontem e de hoje, sejam ouvidos
pelos políticos e poderosos.
Aguardo um retorno.
Atenciosamente,
Tiaguinho – faltando dois meses para completar 70
aninhos.
...
Em tempo: Quando o senhor for à casa dos meus amigos e
amigas para entregar os seus respectivos presentes diga a eles que eu desejo
Boas Festas, viu?