Estou distante apenas alguns dias de completar 70 anos de
vida e até bem pouco tempo eu não conhecia os serviços públicos de saúde da
minha querida Cidade de São Paulo. Agora conheço e é muito bom.
Aconteceu que ao me aposentar aos 65 anos, e deixar de
trabalhar, mesmo, ficou difícil pagar serviço médico/hospitalar particular. A
grana ficou curta e não dá para sacrificar as minhas poucas e simples
necessidades podendo utilizar os serviços públicos disponíveis.
Foi o que eu fiz.
Comecei o conhecimento desses serviços públicos indo ao
Posto de Saúde aqui do meu bairro, no Itaim Bibi, em 2009 para a vacinação
contra gripe. Depois olhando a lista de especialidades do Posto marquei consulta
com o oftalmologista pra atualizar as lentes dos óculos.
Fui atendido por gente atenciosa em um local limpo.
Anos mais tarde em 2013 quando decidi fazer um exame da
próstata, para verificar se estava tudo bem com ela, passei pelo clínico geral do
posto. Ele, o clínico, pediu exames de sangue e urina - os materiais foram
colhidos no próprio posto de saúde - e fui encaminhado, junto com os resultados
dos exames, para o AMA Sorocabana, na Vila Romana, porque o nosso posto de
saúde não dispõe dessa especialidade - Urologia.
Fiquei surpreso com as dependências desse AMA e com a
forma moderna de atendimento e a cordialidade dos atendentes; com senha,
painéis eletrônicos, e o cuidado com a limpeza das instalações e equipamentos
desse antigo hospital reformado. O medico atencioso verificou os exames que eu
trazia (sangue e urina) e pediu uma ultrassonografia da próstata. O exame foi
feito, dias depois, ali mesmo no AMA Sorocabana, por um médico e assistente, em
uma sala asséptica com aparelhagem moderníssima.
Tudo ok com a próstata do véio.
Aí, um pouco depois, nesse mesmo ano, julho eu acho, pintou
uma feridinha no pescoço que eu achei que era uma espinha ou cravo. Apertei, e a
feridinha inflamou e não sarou.
Bem, marquei uma consulta e voltei ao clínico geral do
posto do Itaim Bibi que, outra vez, solicitou encaminhamento para uma consulta
com um dermatologista – o posto também não tem essa especialidade. A
solicitação foi feita pelo computador e agendada para o Hospital das Clinicas,
que eu só conhecia o prédio visto de fora e pela fama de melhor Hospital da
America do Sul.
No dia agendado fui atendido. Início de outubro do
mesmo ano, 2013.
Primeira consulta setor de triagem; composto de médico
líder e um grupo de assistentes. Recebi um cartão de identificação com código
de barras e passei a ser paciente das Clínicas. Que alivio.
Consultórios impecáveis.
Segunda consulta; os médicos pediram que eu ficasse de
cuecas e deitasse em uma maca com forro descartável e examinaram o meu corpo
inteiro; verificaram a necessidade de biópsia na ferida do pescoço e outra ao
lado do supercílio direito.
Terceira consulta; sala para pequenas cirurgias
(diversas) e realização da biópsia. Paredes de concreto aparente e total
assepsia nas instalações, nos equipamentos, instrumentos e paramentos dos médicos.
Inacreditável.
Quarta consulta. Resultado da biópsia: câncer de pele e
necessidade de um novo exame; “Imunoistoquímico e Coloração” para indicar o
tipo de intervenção cirúrgica e tratamento.
Retorno agendado para 08 de dezembro, 2013.
Quinta consulta. Os resultados dos novos exames não
ficaram prontos. Mesmo assim, enquanto esperam os resultados, os médicos enviaram
duas solicitações para vagas em Oncologia para o ICESP (Instituto do Câncer SP)
que também pertence ao Hospital das Clínicas, só que no prédio da Av. Dr.
Arnaldo; uma solicitação para o setor Cabeça e Pescoço e outra para
Dermatologia. Dependendo do resultado do “Imuno” serei aceito em um setor ou em
outro.
Aguardar chamada que será feita dentro de 10 ou 15 dias,
à partir desse dia 08 de dezembro, nos números dos telefones que deixamos para
contato, o meu e do meu filho.
Tudo absolutamente profissional e competente.
Alguns dias depois, dia 14 de dezembro, recebi a oferta
de atendimento pelo telefone, e a confirmação por SMS, que eu serei atendido e
tratado no Hospital do Câncer, no prédio da Av. Dr. Arnaldo, 251 - 4º andar, no
próximo dia 04 de fevereiro às 10.15 hrs., pelo Dr. Caio Lamunier de Abreu Camargo.
Surpreendente!
Quer dizer então que o serviço de saúde na cidade de
São Paulo é uma maravilha?
Não é uma maravilha não, no entanto poderia. O
atendimento é demorado entre uma consulta e outra; é preciso muita paciência e
meses de espera para o tratamento necessitado.
Quer saber o motivo?
Senhoras e senhores, o número de pessoas atendidas por
esses Postos de Saúde, AMAS, e, principalmente, o Hospital das Clínicas; essa
Instituição Médica que poderíamos chamar de Hospital de Refugiados, é assustador.
Hospital de refugiados? Continue lendo e você vai saber.
É que, nesses ambientes de atendimento médico/hospitalar
os moradores antigos da cidade, como eu, parecem estrangeiros: são 2 em cada 10,
pra não errar, os paulistas que frequentam o atendimento médico/hospitalar
público da cidade; sejam brancos, negros, mulatos ou amarelos, o resto é de
fora, segundo a minha observação, treinada pelos olhos e ouvidos durante
decadas.
Conheço bem essas duas figuras que vivem aqui: da
saudosa e da nova Paulicéia.
Para as primeiras figuras é porque nasci no bairro da
Barra Funda em 1944 e sou filho e neto de gente que já morava aqui à muito
tempo. Na segunda é porque, quando adulto, morei em Recife e trabalhei em todo
norte/nordeste brasileiro e casei em Fortaleza com uma cearense. Convivi, durante
4 anos, entre os privilegiados e a multidão de desprotegidos indo de Salvador a
Manaus passando por todas as capitais do caminho; área da minha atuação como
diretor da Operadora de Turismo Meliá.
Meu, é como se os filhos da cidade estivessem proibidos
de usar os serviços públicos da sua cidade porque não precisam. Seria bom, no
meu caso.
O Estado que è responsável por 40% da renda da União
(?) – composta de 26 estados e 1 distrito federal - ainda tem que ouvir a senhora Dilma ou algum
dos seus ministros, uma vez ou outra, dizer que estão investindo alguma coisa em
São Paulo.
Com o dinheiro arrecadado onde? É de cagar de rir.
Acontece, pra finalizar, que o serviço de saúde de São
Paulo poderia ser realmente uma maravilha, se não houvesse tanta gente vindas
se refugiar na cidade, ou no estado, fugindo da vida e dos serviços públicos
oferecidos pelos seus estados de origem. Estados, na sua grande maioria, nortistas
e nordestinos, que produzem políticos aproveitadores, preguiçosos, incompetentes
(?), descarados e um bando de miseráveis para exportação (com as exceções de
sempre).
No entanto, esses mesmos coronéis políticos - que nunca
estiveram interessados em criar valor para a região e o seu povo - são eleitos
e colocadas no poder, à séculos, por eles mesmos, esses Couro de Gato*. E nem um, que empurra os seus conterrâneos
para os outros socorrer, e nem o outro, que é socorrido, tem um pingo de
vergonha dessa situação, ou, melhor dizendo, vergonha na cara.
Parece que São Paulo virou o novo Arraial de Canudos.
Só falta eleger o Antonio Conselheiro como governador.
Você pode achar esse meu relato e considerações
preconceituosas; é que eu sou tolerante, mas não sou fanático e, muito menos,
hipócrita.
A verdade é feia e inconveniente, eu sei.
Feliz Aniversário Cidade de São Paulo!
...
* Aprendi a
expressão Couro de Gato com um senhor
da elite pernambucana que usava o termo para se referir ao povaréu, à gente
comum do seu Estado. Já o escritor paraibano, José Lins do Rêgo, usava o termo
Macumbenbes ou Mocambos quando se referia aos cidadãos que ele classificava de
segunda classe (leia “Fogo Morto” da sua autoria).